quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Algo Secreto

Esses últimos meses me vi as voltas com o estudo da história. Confesso que não somos muito íntimas, talvez o fato de minha escolha pelas letras e pelas artes me afaste de uma perspectiva linear e desencadeada de narrativa. Mas enfim, como nem todo tempo se perde, eu me diverti e posso dizer até ter aprendido uma coisa ou outra. Foi uma idéia, aquelas de síntese que intentam provocar o leitor, que me agradou e me fez pensar fora da história. O texto era de Reinhart Koselleck, Crítica e Crise e a idéia a seguinte: o iluminismo surgiu do absolutismo, pois o monarca deixou aos súditos um espaço privado, particular para suas convicções e foi nesse lugar que a consciência pode se desenvolver. O iluminismo não me interessa em absoluto, mas essa idéia de um quarto dos fundos onde algo se constrói apesar de todos os vetores do resto da casa realmente me impressiona. Mais que isso, me atrai. Fico enxergando determinados atos cometidos que, à primeira vista, parecem vindos de lugar nenhum, mas agora sei. Eles foram criados no quarto dos fundos, no gabinete empoeirado. O quarto onde se guarda tudo aquilo que não se quer mais ver, mas que não podemos descartar. Ali certas decisões são tomadas, a revelia do resto da casa. É um segredo necessário.

Todos devem ter um segredo, qualquer um. Algo que não seja dado a ver, que não se mostre. Nisso sempre acreditei, quando mais nova alimentava os pombos da praça quando ninguém estava olhando, quando saía à tarde sem dizer aonde iria. Eu alimentava os pombos, aqueles mesmos aos quais eu maldizia na frente dos outros, os mesmo que recebiam meus chutes. À tarde, sozinha, eu os alimentava somente para ter um segredo. E para minha sorte e sobrevivência, pombos não tem memória. O segredo deve, de tempos em tempos, mudar, pois se gasta. Os pombos não fazem mais sentido, estão gastos. É preciso sempre outro, um novo segredo. O gabinete empoeirado deve crescer junto conosco, pois é daí que surgem os atos fundamentais. O ato inevitável vem dessa pequena saleta atrás de toda nossa consciência e nos impele a seguir e, portanto, agir apesar de nós mesmos.

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