quarta-feira, 29 de abril de 2009

Uma sextina quebrada para um herói esquecido.

 

Avisto o homem que carrega a pedra.

O homem sobe passo a passo a montanha.

Ao chegar no cume, vê cair a rocha.

Objeto perdido que estava em seus ombros.

O homem, então, sabe que deve dar a volta.

Desce agora a montanha, nos olhos, sombra.

 

Desce, o sol à pino não lhe faz sombra

Desce de novo busca a perdida pedra.

Busca a pedra sem pensar em sua iminente volta.

O homem está ali há tanto, que é parte montanha

A caída pedra aguarda o regresso aos ombros

Assim a volta ao cume fará do homem, rocha.

 

Mãos quebradas como uma velha rocha

O homem que fugiu de se tornar sombra

Um  morto, carrega a vida nos ombros

Morto? Sabe-se vivo enquanto pedra.

Sabe-se homem, não todo montanha.

Condenado sempre ao caminho da volta.

 

Caminho andado nunca é apenas volta,

Assim como ele é homem e rocha.

Sabe não ser aquela a mesma montanha

Mesmo que à minha vista seja a mesma sombra

como a mesma é também outra pedra.

Outra nos mesmos cansados ombros

 

Em sua ciência que vem dos ombros

O homem sabe que jamais há volta

O Homem tira ensinamento da pedra

Pedra mesma e sempre outra rocha

como homem nunca deixa mesma sombra

subindo e descendo mesma e outra montanha

 

Avisto de longe o homem da montanha.

Seriam meus aqueles tristes ombros?

Minha a tosca e mal desenhada sombra?

Onde seria, então, minha saída de volta?

Eu que um dia sonhei ser  uma rocha,

Espero ainda encontrar minha própria pedra.

 

 

 

domingo, 26 de abril de 2009


Compromissos inadiáveis

 

No quarto, à luz acesa

me despi completamente

pra você.

No quarto, a luz acesa

testemunha todo

meu prazer.

No quarto há luz acesa

mesmo de manhã.

A noite toda me entreguei

a você.

Foi mesmo uma pena você , infelizmente,

não ter podido estar presente.

sexta-feira, 24 de abril de 2009


 

Um passante

 

A vista turva e os sons, gemidos.

A mão sinuosa passou, deixou

o corpo todo em alarido.

Os lençóis jogados em torno

rasgou a alça do vestido

dentemordendo, bocas abertas

língua no ouvido.

De ondas calmas e certas

o ritmo se fez frenético

respiração curta, gemido

(e pensar que tudo veio de um papo poético)

Que noite...e a luz após! -Efêmero encontro

cujo movimento me fez gozar outra vez.

De manhã já foi, banho não tomou, calça mal vestiu

Não deixou nem um talvez

Longe daqui vai, amante.

Passou.

terça-feira, 21 de abril de 2009


Inversão térmica.

Chuva na cidade do Rio de Janeiro.
Uma frente fria provoca chuvas na capital fluminense.
Faz 16 graus.
Uma massa de ar seco que predomina sobre a cidade de São Paulo
deixa o tempo aberto e a temperatura agradável na capital paulista.
Faz 28 graus.

quinta-feira, 16 de abril de 2009


Valsa

São três pra lá, três pra cá.

Três tigres bêbados

tropeçando pernas pelo porto.

Jules, Jim e ele

quem sabe nossa Jeanne Moreau.

terça-feira, 14 de abril de 2009



 Silêncio.


Um lance. Mais um lance.  

Só, move uma vez mais.                                                                                                              

Na diagonal. O que lhe resta.                                                                                                                         

Um gesto e a espera.                                                                                                                                

Tempo. O outro se move.              

No solo branco. Lages. 

                                                  Desliza na posição livre.                                         

Traz o gesto do fim.                                                                               

O último movimento.                                                                                                                        

Suspiro. O Rei morto                                                                                             

Não pôde abolir o acaso.                                                                                                           

Olhos ainda abertos.                                                                                                                      


                       

 

 


segunda-feira, 13 de abril de 2009


Resposta

 

Entregou o livro e disse:

Confie em mim

guarde no vazio

da estante de madeira

essa história de amantes.

Estanque.

A surpresa de páginas arrancadas

(confie em mim)

A luz do escritório acesa

e sobre sua mesa

as folhas rasgadas.

O tato da mão fez sentir o rasgo, ferida de papel.

Li as frases de tua estória despedaçada,

não teve graça.

Costurei com fios a memória arrancada.

Afiei as lâminas da casa.

Escrevi na pele com agulhas, cicatriz de carne.

Me feri com letras

Te odeio com facas

Espero gelada, tornada

punhal de prata

a tua volta da estrada

mais uma e agora a última vez.

Aguardo, lâmina afiada,

a tua voz afinada

que dirá pela última vez:

 - Confie em mim.



Naufrágio.

 

Estou aqui. Trancada.

Escrevo mensagens

em garrafas.

From: my dark night.

As portas e janelas

fechadas.

Gengivas sempre semi

cerradas.

Feridas na boca, sangue, coagulação.

Envio as letrinhas

encarceradas.

Can you help me out.

As garrafas acumuladas nos canos da descarga

   fazem entupir todos os líquidos que escorrem

    por baixo de minha porta e impedem

                                  minha liquidifica-

                                                                    ção.

Me arrisco com ideias engarrafadas

Que a mão não risca mais, confusão.

Se não posso lápis,

ao menos mata borrão.