terça-feira, 23 de junho de 2009

O sujeito que não conheço

 

Andava arrastando os pés, apoiado por uma bengala alta

Talvez o equilíbrio precário viesse de uma velha falta

Quando menino pensava em ser meteorologista

A vida veio de banda e fez dele dentista

Não soube precisar seu desejo

Seguia esperando o lampejo

de luz fraca em alma vazia

Entre uma ideia e outra se aprazia

Arrancando distraidamente de moças os dentes

Sem nunca imaginar um dia poder ver-se contente

Sujeito que desejou examinar cúmulos nimbos e estratos

Passa os dias a prever das bocas futuras extrações dos tártaros

Acreditou que se olhasse para si mesmo bem no fundo

Poderia reagir e a qualquer hora ganhar o mundo

Permanecia no encardido do consultório

Sonhando em passar noites em algum frio observatório

Espera ainda em silêncio pela hora em que os desejos voltem

O instante um que seus gestos cresçam e se notem

Quem sabe da janela soprará um vento do sul

Que o descubra de seu trajes opacos e o deixe nu ou todo vestido de azul.

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