O sujeito que não conheço
Andava arrastando os pés, apoiado por uma bengala alta
Talvez o equilíbrio precário viesse de uma velha falta
Quando menino pensava em ser meteorologista
A vida veio de banda e fez dele dentista
Não soube precisar seu desejo
Seguia esperando o lampejo
de luz fraca em alma vazia
Entre uma ideia e outra se aprazia
Arrancando distraidamente de moças os dentes
Sem nunca imaginar um dia poder ver-se contente
Sujeito que desejou examinar cúmulos nimbos e estratos
Passa os dias a prever das bocas futuras extrações dos tártaros
Acreditou que se olhasse para si mesmo bem no fundo
Poderia reagir e a qualquer hora ganhar o mundo
Permanecia no encardido do consultório
Sonhando em passar noites em algum frio observatório
Espera ainda em silêncio pela hora em que os desejos voltem
O instante um que seus gestos cresçam e se notem
Quem sabe da janela soprará um vento do sul
Que o descubra de seu trajes opacos e o deixe nu ou todo vestido de azul.
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