quinta-feira, 18 de junho de 2009

Educação

Vivíamos eu mais ela. Da casa , não guardo memória. Só o sol e o concreto da garagem. De certo, havia parede. Mais adiante me lembro da sala. Espere e veja. Leia. O pai não tinha. Havia existido no momento de existir. Depois fumaça e o nome João. João tem tantos. João tem de montão! Sopa de beterraba também era abundância. Fortalece o sangue. Crescia pensando pra que tanto sangue. A conversa era pouca. Rarefeita. Durava o tempo da mesa posta. Comia rápido. A palavra era escrita. Eu olhava. Era tanta letra.
Noite dessas ela falou. Bem podia ter alguém mais aqui. Só nós duas presta mais não. Muito feminino. Era bom um alguém homem. Só para estar. Sei lá. Precisava nem rosto. Madeira. Falou e se esqueceu. Ela era assim: falava a duração do tempo de estar por perto. Depois se entretinha. Ia embora.
Foi no outro dia. Outra página, sei não. Mirei o canto da sala e estava lá. O dito. Homem sem rosto. Não falava, nem olhava. Avisei a ela. Você falou. Ali. Agora existe. Tá por aqui por essas páginas. Deu os ombros.
O bicho, não sei se era. Madeira. O chão rangia ao seu andar. O bicho se arrastava. Me seguia às vezes. Lembrava de meu cão. O Biu. Incumbência.
- Você come, bicho? Dizia nada.
Dei para lixar ele. Esculpir. Fazer do dito, visto. Passou ao irreconhecível. Era coisa sem nome. O que não se nomeia vagando pelo mundo, sem canto. Sem estante. O algo iniciado por minha mãe. Ela deu. Largou a frase pelo meio. Nela um ganchinho de vazio. Preencheu. Preenchi.

1 comentário:

  1. Un texto que me obliga regresar a Beckett, a "Primer amor", a "Molloy" también, me lleva a algo grande, que tiene que ver con las palabras, claro, con una forma de escribir bruta, sin compasión, "la buena literatura no puede nacer de los buenos sentimientos", no sé quién lo dijo, o escribió, pero aquí es palpable, tanta lucidez poética, y cuando digo poesía digo crimen, belleza de lo que duele.

    Magnífico.

    ResponderEliminar