E me veio a notícia de seu corpo. O destino de
seu corpo. Luiz Maranhão, o amigo de meu avô, teve seu corpo incinerado em uma
usina de açúcar no norte do Estado do Rio de Janeiro. O moço que gostava de
cachaça com caju. Seu rosto retornou uma vez mais, durante a noite, em um
jornal qualquer. Não disseram seu nome, mas o vi, o reconheci e mais uma vez
ele olhava para mim. O rosto de Luiz. Seu corpo queimado. O homemdelegado, monstro-homem-comum.
Esse aí. A banalidade do mal encarnada num corpo grisalho e mole, disse “era
preciso fazer desaparecerem completamente”. Pois não fizeram. Seu bosta, como
diria minha vó. Seu bosta, Luiz desapareceu, mas não completamente, seu rosto
retorna. Seu corpo virou cinza e fumaça, subiu leve, leve pelo céu, caiu nas
folhagens secas do norte do estado. Rio de Janeiro. Tão feio o norte do estado
que conheci, mas o de Luiz embonitou com sua dança de brasa e cinza. Os
pequenos pontos luminosos. Agora eles, os pontos e o corpo, não caem, mas sobem
ao céu. E quem disse que não era possível? Luiz terminou no céu. Ele estava
morto, ele está morto, mas não sem vida. É diferente. É como meu avô. Meu avô
está morto e não soube o fim da história de seu amigo. Mas meu avô não está sem
vida. Tem vida ainda. Por aí. Ele, Luiz, tantos outros. Vida feito espuma do
mar, feito cinza e poeira fina. No jornal não disseram seu nome. Mas eu disse.
Digo. Quando lhe vi, gritei como quem reconhece um velho amigo no meio da
gente. Luiz! Eu disse seu nome. Repito agora. bem baixinho. Repito enquanto
escrevo: Luiz.
Sem comentários:
Enviar um comentário