segunda-feira, 29 de agosto de 2016


E me veio a notícia de seu corpo. O destino de seu corpo. Luiz Maranhão, o amigo de meu avô, teve seu corpo incinerado em uma usina de açúcar no norte do Estado do Rio de Janeiro. O moço que gostava de cachaça com caju. Seu rosto retornou uma vez mais, durante a noite, em um jornal qualquer. Não disseram seu nome, mas o vi, o reconheci e mais uma vez ele olhava para mim. O rosto de Luiz. Seu corpo queimado. O homemdelegado, monstro-homem-comum. Esse aí. A banalidade do mal encarnada num corpo grisalho e mole, disse “era preciso fazer desaparecerem completamente”. Pois não fizeram. Seu bosta, como diria minha vó. Seu bosta, Luiz desapareceu, mas não completamente, seu rosto retorna. Seu corpo virou cinza e fumaça, subiu leve, leve pelo céu, caiu nas folhagens secas do norte do estado. Rio de Janeiro. Tão feio o norte do estado que conheci, mas o de Luiz embonitou com sua dança de brasa e cinza. Os pequenos pontos luminosos. Agora eles, os pontos e o corpo, não caem, mas sobem ao céu. E quem disse que não era possível? Luiz terminou no céu. Ele estava morto, ele está morto, mas não sem vida. É diferente. É como meu avô. Meu avô está morto e não soube o fim da história de seu amigo. Mas meu avô não está sem vida. Tem vida ainda. Por aí. Ele, Luiz, tantos outros. Vida feito espuma do mar, feito cinza e poeira fina. No jornal não disseram seu nome. Mas eu disse. Digo. Quando lhe vi, gritei como quem reconhece um velho amigo no meio da gente. Luiz! Eu disse seu nome. Repito agora. bem baixinho. Repito enquanto escrevo: Luiz.

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