segunda-feira, 29 de agosto de 2016



A vida é filme. A vida é filme e era melhor que não fosse. 
Filme dói demais, tem vezes que dói demais. 
Uma trilha e a cena vazando pra vida e não sobem os créditos 
e não acaba e vai amargando muito tempo ainda pela calçada. 
A vida é filme e ninguém grita corta. 
Estava lá eu e ele, uma mesa de plástico. 
Desculpas e um silêncio que dispersa a atenção, 
faz fugir a atenção, silêncio porque não tenho mais o que dizer.  
Só repito não suporto mais, quebrei. 
Tenta mais, não faço mais. 
Quebrei, não tento mais, não tem mais eu, quebrei. 
O silêncio e um carro passa 
e dá pra ouvir a voz do Nat King Cole “unforgettable” 
justo na hora do silêncio. 
Externa - dia - calçadão. 
Unforgettable justo na hora que você, ele, repetia: desculpa. 
Não vai pra muito longe e me desculpa, tenta. 
Quebrei. Aqui é o silêncio. 
Isso aqui é silêncio, porra. 
Diria se fosse uma torcida, se fosse um jogo. 
Vai embora. Não vou. Levantam os dois. 
Um beijo. 
Obrigada por dividir sua alegria comigo 
e desculpe ter estragado tudo. 
Me quebrou de novo, o que restava. 
Não se desculpe. 
Espatifamos tudo juntos. 
A vida é filme e o casal se separa no calçadão de Ipanema, 
ele pede desculpas, agradece. 
Por dividir sua alegria comigo. 
Ele não tinha nenhuma. Talvez. 
Saio chorando e um menino gordinho, 
negro, sorri e diz não chora, não, princesa. 
Não sou princesa, sou o monstro, o bufão, então eu choro. 
E demora muito, a calçada demora muito, 
o meio do dia demora muito. 
E a vida é filme, mas tá sol. 
E não tem mais alegria nenhuma pra dividir. 







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