A vida é filme. A vida é
filme e era melhor que não fosse.
Filme dói demais, tem vezes que dói demais.
Uma trilha e a cena vazando pra vida e não sobem os créditos
e não acaba e vai
amargando muito tempo ainda pela calçada.
A vida é filme e ninguém grita corta.
Estava lá eu e ele, uma mesa de plástico.
Desculpas e um silêncio que dispersa
a atenção,
faz fugir a atenção, silêncio porque não tenho mais o que dizer.
Só repito não suporto mais, quebrei.
Tenta mais, não faço mais.
Quebrei, não
tento mais, não tem mais eu, quebrei.
O silêncio e um carro passa
e dá pra
ouvir a voz do Nat King Cole “unforgettable”
justo na hora do silêncio.
Externa
- dia - calçadão.
Unforgettable justo na hora que você, ele, repetia: desculpa.
Não vai pra muito longe e me desculpa, tenta.
Quebrei. Aqui é o silêncio.
Isso
aqui é silêncio, porra.
Diria se fosse uma torcida, se fosse um jogo.
Vai
embora. Não vou. Levantam os dois.
Um beijo.
Obrigada por dividir sua alegria
comigo
e desculpe ter estragado tudo.
Me quebrou de novo, o que restava.
Não se
desculpe.
Espatifamos tudo juntos.
A vida é filme e o casal se separa no calçadão
de Ipanema,
ele pede desculpas, agradece.
Por dividir sua alegria comigo.
Ele não
tinha nenhuma. Talvez.
Saio chorando e um menino gordinho,
negro, sorri e diz não
chora, não, princesa.
Não sou princesa, sou o monstro, o bufão, então eu choro.
E demora muito, a calçada demora muito,
o meio do dia demora muito.
E a vida é
filme, mas tá sol.
E não tem mais alegria nenhuma pra dividir.
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