terça-feira, 6 de junho de 2017








Adestrada. Aprendi muito rapidamente como me comportar. Sou melhor ainda que um animal de casa. Doméstico. Mais esperta que um cão e não tão metida quanto as gatas. Sei permanecer longe das janelas. Acordar bem cedo, no fim, ainda, da madrugada. Banhar-me sem molhar os cabelos. Sei, sorrateiramente, descer as escadas de seu prédio sem que nenhum vizinho me veja. Passar pela garagem, colada à parede, nem o porteiro ou a câmera de segurança sabem de mim, caminho desapercebida. Diria, sem modéstia, que beiro à perfeição da vida de sombra. Nos cruzamos na calçada e sei passar por você como se não o conhecesse. Sou ciente que o meu turno é o da noite e que nunca veremos o Sol juntos. Calo, se alguém diz o seu nome. Não sorrio de suas façanhas. Não fosse o sangue que escorre pelos poros todos, poderia mesmo deixar de existir.

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