quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Feliz Aniversário

 

Aquele meu amor

de minha adolescência

o mar me carregou.

Domingo feito tarde

Jogo por começar

Onda veio e carregou

O primeiro de meus carinhos

O menino de meus afetos

A água salgada me tirou

Foi se assim sem barquinho

de papel ou de madeira

O seu corpo foi sozinho

Virando espuma do mar

Os afetos de meu menino

Partiu quem primeiro me fez amar

Eu prá trás fiquei areia

Juventude foi aos poucos

Muito devagar

Vendo o rapaz que levava

para o fundo bem fundo do mar

A meninice de meu olhar.

sábado, 17 de outubro de 2009


H.O.

Morreu. Não foi em março, não foi em 80.

Morreu ontem, num incêndio. O fogo o levou daqui.

O sujeito não era mais, era trabalho.

Panos, cores ganhando o espaço. Fogo.

Herói. Foi-se sem ninguém fazer nada.

Preso no quarto do irmão, foi embora. Fogo.

Ninguém foi em seu socorro. Nenhuma voz.

Sobreviva ainda. Marginal.

Resista ainda. Volte ainda.

Aparecerá, eu sei, numa madrugada quando um passista do morro se levantar com seu

estandarte e rodar e rodar e rodar e rodar e rodar.

Nesse momento eu o verei ainda.

 

 

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Hoje acordei com vontade de ser correta.

Arrumar emprego, a cozinha e carro pra levar os filhos.

Escola pras crianças, leite para o gato e tirar as pulgas do cão.

Cedo. Bem cedo acordei e fui caminhar, agora vou me exercitar.

Poupar pra depois de envelhecer. Supermercado todo mês, 

empregada pra me aborrecer. 

A partir de hoje estarei muito ocupada, 

cerveja só as sextas depois das sete e antes das dez. 

Quando muito até as onze. 

Hoje acordei cedo pensando em ter salário, 

pensei em comprar uma gravata e um novo celular. 

Me preocupar com banco e a conta de luz, ler o jornal toda manhã.

Hoje acordei cedo, bem cedo e sem nenhuma vontade de viver.